segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fugindo da Copa (Entrevista)


Além do futebol, outro tema que eu adoro é televisão. Para um trabalho de faculdade, entrevistei o crítico José Armando Vanucci. Enquanto todos falam de Copa do Mundo, o Blog do Torva dá um alívio.


Falar sobre televisão não é tão simples como parece, este modo de fazer jornalismo requer alguns cuidados para não cair no lugar comum. Uma questão polêmica que sempre surge é a diferença entre crítica e fofoca? Para o jornalista José Armando Vannucci, 41, o que diferencia essas duas questões é o modo de transmitir a informação. Assuntos como Chaves, Silvio Santos, IBOPE também são comentados nesta entrevista exclusiva.

Blog do Torva: Qual limite entre fofoca e notícia?

José Armando Vannucci: A palavra fofoca é tratada de forma pejorativa, mas quando é bem contada ela é válida. Existe um público que gosta desse tipo de jornalismo. Normalmente, quem conta a fofoca não tem muita responsabilidade, a informação não é checada. De uma fofoquinha pode nascer uma grande notícia. Na Rádio Jovem Pan eu costumo falar muito mais dos bastidores da televisão e das estratégias de marketing das emissoras do que da vida pessoal dos artistas.

Blog do Torva: Então o importante é o modo de contar?

José Armando Vannucci: Sim, o modo de contar é importante, eu não me sentiria bem falando de uma maneira inconsequente. Sou jornalista e lido com informações. As pessoas querem saber de novela, dos bastidores dos programas, das entrevistas, mas tudo isso eu tenho que fazer de uma forma digna, valorizando o que eu faço e sempre levando credibilidade.

Blog do Torva: A televisão está criando mais artistas ou mais famosos?

José Armando Vannucci: Mais famosos. A televisão precisa da fama das celebridades, ela precisa desse holofote para brilhar. O telespectador gosta de ver gente famosa, gosta deste glamour. Isso não é ruim, é uma linguagem, uma característica da televisão. Em Hollywood é assim, pessoas que são mais famosas do que artistas, e no Brasil isso ocorre na televisão.

Blog do Torva: O IBOPE é o grande vilão da televisão?

José Armando Vannucci: O IBOPE tem seu lado vilão, sim. A medição da audiência minuto a minuto reflete o que acontece naquele momento, mas não mostra necessariamente o gosto de quem está assistindo. O medo de perder audiência e ter que conquistar números faz com que alguns programas se esqueçam da qualidade. O correto seria avaliar o resultado do IBOPE no outro dia, para uma melhor avaliação dos erros e acertos.

Blog do Torva: O que você acha dos Reality Shows?

José Armando Vannucci: Reality show veio pra ficar, e se o programa for bem feito e tiver conteúdo eu gosto. Os melhores programas deste gênero são os que juntam informação e entretenimento. O “Profissão Repórter” é um informativo muito bem feito, e também é um reality, pois tem uma conversa real que mostra como é feita uma reportagem. Agora, a Globo tem o Big Brother Brasil, em três meses ele fatura mais que a Rede TV em um ano, por isso, dificilmente a emissora carioca vai tirá-lo do ar. É um programa que eu só assisto profissionalmente, pois tenho que comentar, e nessa hora eu deixo meu gosto pessoal de lado. Outro reality show que eu gosto é o “Supernanny”, ele tem uma linguagem legal.

Blog do Torva: Existe uma fórmula para um programa de televisão dar certo?

José Armando Vannucci: Acho que fórmula para dar certo não existe. Uma novela, por exemplo, tem recurso, foi baseada em pesquisas, tem os melhores atores e mesmo assim pode não pegar. Outro dia o Gugu lançou um quadro novo (Gugu bate à sua porta) em seu programa, gastou mais de um milhão de reais e mesmo assim não funcionou. O que funciona mesmo é a emoção, não aquela emoção ruim do sentimento, e sim a emoção que toca o telespectador.

Blog do Torva: Por que desenhos como Pica-Pau e seriados como Chaves até hoje dá audiência?

José Armando Vannucci: Porque é um clássico, todo mundo vê, seu pai assistia, você assiste. Ninguém chega em casa e começa assistir uma novela pela metade, já um seriado é mais fácil isso acontecer. As emissoras usam alguns programas como trunfo, qualquer horário que é colocado dá audiência.

Blog do Torva: Os apresentadores de telejornais estão mais soltos no ar?

José Armando Vannucci: É uma necessidade da televisão. Hoje em dia tudo está mais solto e conversado, as pessoas cansaram daquele formato engessado. Antigamente não podia ter opinião, rir, e muito menos se emocionar. Nos dias de hoje, todo mundo tem informação, e o que realmente o público deseja saber é a opinião do apresentador, qual a sua visão sobre o fato. O Globo Esporte atualmente é um grande exemplo dessa mudança na televisão, eu não gosto de esporte e mesmo assim assisto por causa do Tiago Leifert. Ler a notícia é fácil, basta ter uma boa voz, agora, conversar, se comunicar e agir de acordo com a emoção é muito difícil.


Blog do Torva: Já que estamos falando de apresentadores, o Silvio Santos ainda é o grande gênio da televisão?

José Armando Vannucci: Não sei se ele é gênio, mas é o maior comunicador vivo do país. Silvio Santos e Hebe Camargo são os últimos apresentadores da era dos comunicadores, são daqueles que o próprio apresentador se basta, o programa não precisa ter atração, tanto o Silvio, quanto a Hebe seguram a audiência apenas com o auditório. O Faustão e o Gugu já não conseguem segurar um programa sozinho, precisam de convidados. Silvio Santos no palco para mim é nota doze.

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